segunda-feira, 7 de novembro de 2011

...

Da Discrição

Não te abras com teu amigo
Que ele outro amigo tem.
E o amigo de teu amigo
Possui amigos também...




Das Utopias

Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!





Da Preguiça

Suave Preguiça, que do mau-querer
E de tolices mil ao abrigo nos pões...
Por causa tua, quantas más ações
Deixei de cometer!



Mario Quintana
Antologia Poética



domingo, 30 de outubro de 2011

Queria ser

     Eu estava a observar o céu enquanto sofria por ver você triste. Eu pensava em como poderia me tornar uma amiga melhor, de certa forma, eu quis ser as estrelas pra que por mais longe que eu estivesse, conseguisse ver seu sorriso ao me ver brilhar. Queria poder ver você apontando pra mim mesmo não sabendo qual eu seria, vendo que ficaria feliz só pela minha presença.
     Depois, eu quis ser a Lua, pra que como qualquer outra pessoa você quisesse vir até mim por mais longe que eu estivesse. Pra que você tentasse me alcançar, brincasse comigo de várias formas, admirasse minha luz calma e cintilante, me deixasse iluminar sua noite e principalmente, soubesse que estaria com você tanto nos momentos bons quanto nos ruins.
     Então resolvi querer ser o Sol, pra que mesmo que você me visse muito de longe confiasse no meu calor, pra que mesmo sabendo que não consegue me ver diretamente, tentaria de todas as formas. E soubesse que mesmo sendo impossível chegar perto de mim eu sempre estaria ali na sua vida pra te aquecer, por mais frio que estivesse desde o momento que você acorda.
     Mas sabe o que afinal eu sou? Que é melhor que todas as opções anteriores... Sou uma pessoa, que mesmo não podendo te aquecer da mesma forma que o Sol, sempre tentarei. Que mesmo que eu não seja linda ou tenha o brilho mais cintilante e mais bonito como a Lua ou que eu não seja a mais importante na vida de todo mundo, você possa me admirar como eu realmente sou.
    Porque mesmo eu sendo uma pessoa simples assim, você ao menos pode chegar perto de mim e eu sei que chegando perto e te abraçando eu não o machucaria e tendo só isso em mente já me deixa feliz.


Ana Carolina Sardo

     As pessoas sempre dizem ser errado essa tal de falsidade, mas no fundo elas sabem que gostam disso, porque quando se é verdadeiro a probabilidade de machucar sentimentos é maior. Ta aí um motivo pra falsidade continuar, enquanto o que sempre vai acontecer é que, quem é verdadeiro com a intenção de melhorar só se ferra.

domingo, 9 de outubro de 2011



        Que graça tem nascer e morrer sozinho, se o ser humano não tem nem ao menos a capacidade de viver sem alguém?

Ana Carolina Sardo

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Entre linhas


Seu coração já não é o mesmo, há mudanças que pessoas em sua volta percebem inclusive você. Ele já não bate na mesma velocidade, enquanto isso o tempo passa, os ponteiros vão... vão... e nunca voltam, apenas repetem o percurso. Você acompanha... e nunca volta, apenas repete alguns atos, as vezes errados, as vezes corretos... O tempo já não é o mesmo: o ar se tornou mais impuro, as culturas não são mais as mesmas, sua pele está diferente, seus dons mudaram e seus gostos também. Suas reações diante de certas notícias também estão diferentes. Você é mais forte, mas ao mesmo tempo o mais fraco, o que mais tem experiência, mas ao mesmo tempo o que aparenta ser menos experiente, você está ficando em outras palavras, mais velho, mais distante do que um dia passou e mais longe de um momento que queria que se repetisse. Qual seria o preço de envelhecer? Sofrer em silêncio, se mostrar mais forte mesmo as pessoas querendo ajudar achando que já não aguenta, ou até mesmo o contrário. Ver pessoas partirem, querendo sua vida em troca da delas, se tornando cada dia mais próximo de ser chamado de idoso. Como seria entender, que os tempos se passaram, que oportunidades perdidas não voltarão? Como seria ter pessoas em sua volta, achando que estão ajudando mas que no fundo o que você pode estar a pensar é "porque não percebes que prefiro ficar sozinho?" Como seria sentir falta de tudo e lembrar de quase nada? Sabe, a vida nunca vai ser justa, pois o preço que você deve ao viver e consequentemente envelhecer, é sofrer. Mas junto a ele, aprender, entender, compreender e SER. E o que antes era escrito entre linhas pela sua sabedoria, agora resta ser entendido pelos seus novos integrantes da família, ou ser lido por você, com a ajudinha de alguém e de seus novos óculos.
Texto pensado em meus avós, que estão passando por um momento difícil.

Ana Carolina Sardo

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Caixa surpresa



     Meus sentimentos são tão complicados, sempre tento contê-los, organizá-los, mas no fim se torna tão difícil a ponto de eu não saber mais o que fazer. Queria que eu pudesse controlá-los, acho que seria mais feliz, me sentiria bem melhor. É como se eu tivesse uma caixa, muito pequena, uma caixa surpresa, onde estivesse todos meus sentimentos ali dentro, todos apertados, sem exceções. E a cada pessoa que eu conhecesse plantasse um novo sentimento ali dentro, que eu não saberia qual, ou até mesmo, alimentá-se um já existente. Mas isso não quer dizer que meus próprios sentimentos não possam criar outros novos, ou alimentá-los também, aliás justo por essa caixa ser pequena, meus sentimentos com o passar do tempo estariam todos bagunçados, alguns atrapalhando os outros, alguns mudando os outros, alguns criando outros e até mesmo matando outros.
     Infelizmente, essa caixa está fechada e eu não tenho a chave de seu cadeado. O que me incomoda em tudo isso é: Assim como eu me considero essa pequena caixa surpresa, como eu consigo colocar todos meus sentimentos nela mesmo fechada e não consigo retirá-los? É algo inexplicável e ao mesmo tempo agonizante, e eu creio que não sou  a unica pessoa que queira saber.
     O amor e o ódio por mais que sejam as palavras mais pequenas, em sentimentos, são as que mais me ocupam espaço e as que mais me trazem problemas, pelo simples fato de que essas duas palavras, podem criar várias outras, que por algum acaso, não são pequenas nem na escrita, como a solidão, a tristeza, o arrependimento e o sofrimento. Isso faz com que se juntem todos pelo pouco espaço, e eu não saiba o que fazer.
     Realmente, a cada dia que passa essa caixa se torna ainda mais pequena pra tantas coisas, elas ao menos poderiam aumentar, mas no fim, parecem que só diminuem e isso faz com que eu não saiba qual sentimento é verdadeiro, porque são tantos e de uma forma ou de outra, todos ligados uns aos outros. Talvez seja por isso que não consigo retirá-los. O que me resta, é pegar essa pequena caixa, e cuidar dela, tentar de todas as formas, organizar ela, e independente do que aja dentro, ser feliz. Porque o que tem dentro dela, só eu sei, e por mais que eu conte a alguém, ninguém vai entender, ninguém vai ter essa mesma caixa, esses mesmos sentimentos. E por mais que o ódio e o amor estejam ocupando tanto espaço assim, eu sei que existem outros sentimentos, que eu posso simplesmente colocar sobre eles, como a felicidade e a amizade e eu sei que um dia o amor será o melhor sentimento ali dentro e andará junto com todos os outros bons. Assim como tem pessoas que conseguem alimentar alguns sentimentos que não são bons, eu posso sim alimentar os que me deixam bem, os que me fazem melhor.
     Por mais que eu queira abrir essa caixa, que graça teria? Que graça teria eu controlá-los? O bom disso tudo, é saber que eu sou o que sou mesmo com essa caixa minúscula e que a cada vez que alguém plantar algo nela, se for algo bom, fará de mim mais feliz e se for algo ruim, fará de mim ainda mais forte.

Ana Carolina  Sardo